Um ano mais tarde voltamos a
Santiago de Chile, mas trocamos a câmera fotográfica por uma bicicleta e a
viagem de turismo pela competição desportiva. Não é uma prova a mais. Tento-me
afastar da pressão, mas é a minha estreia em 2016, a minha estreia com as cores
do Brasil, a minha volta a ITU após quase três anos e a primeira porta de um
longo caminho de volta para o profissionalismo. Tudo isso no Campeonato
Sul-Americano de Triathlon.
Aterrissei quarta-feira na
capital chilena onde fui espetacularmente recebido por Gaspar Riveros e sua
família. Amo os dias prévios a um campeonato: horário flexível, treinamento
leve temperado com estímulos fortes, muitas horas de sono e um acúmulo de força
física e psicológica para entregar no domingo.
No dia da prova o celular
estava fumegante, rumores depois confirmados dizem que os age group estão
disputando uma aquathlon porque a polícia negou as permissões de tráfego para o
ciclismo. - "O que?" - Me pergunto. – “É o Chile." – Me diz
Gaspar.
Chegamos no parque de transição
em um mar de dúvidas. Em princípio será aquathlon (1,5 km de natação e 10 km de
corrida), mas não nos podem confirmar até quinze minutos antes da partida, mas
as bicicletas ficaram prontas caso fosse necessário. Sem perder um pouco de
calma ou vontade, aqueço e visualizo a prova.
Chamada para sair. Os leões
marinhos a uns cem metros do percurso de natação nos lembram da temperatura da
água. O frio vai embora com as primeiras braçadas após a largada. Parto do lado
direito procurando o caminho mais curto até a primeira boia. Logo eu me coloco
em primeiro lugar no lado direito, mas muito atrás em comparação com a ponta
esquerda, onde estão os melhores nadadores. Decido seguir a minha aposta com toda
a minha força, mas continuo perdendo terreno e finalmente desenho uma diagonal
para o lado esquerdo a fim de buscar a proteção do grupo. As sensações não são
boas e estou atrasado, em torno da 10ª posição. Com muito esforço ganho uma posição
antes da bóia. Outra na bóia. E outra repetindo operação no seguinte giro.
Depois de deixar atrás as sensações ruins e o frio, fico num 4º lugar que já
não vou deixar até sair do Pacífico.
Transição. Deixo a roupa e
calço os tênis. - "Ouch!" - A água fria tem seu preço e várias
cãibras me recomendam ir devagar até controlar meus músculos, que finalmente
relaxam quando começo a correr pelo passeio. Perdi posições e começo forte.
Muito forte. Assumo a liderança aos 500 metros com o meu amigo Riveros (CHI) e
Matute (ECU) colados nas minhas costas. Ainda aumento o ritmo procurando ficar
sozinho. Não olho para trás, mas em torno do primeiro km deixo de ouvir passos
atrás de mim. - "Venha, você está onde queria, apenas 9 kms mais" –
O corpo anseia calma, mas peço força
e ritmo. No primeiro giro de 2,5 kms vou com 23 segundos à frente. Continuo
lutando e focando-me: o movimento do braço, abdome, frequência, pé reativo.
Após a segunda volta, a vantagem aumenta, o ritmo me pesa e caio um pouco.
Aparecem os primeiros pensamentos de vitória que tento apagar. Movimento do
braço, abdome, frequência, pé reativo...
Última volta. Agora sim. Estico
a mão para parabenizar o público, salto, olho para o céu, o público, o mar.
Lembro-me de muitas pessoas e levanto a fita da meta. Sou o Campeão Sul-Americano
de Triathlon! Gaspar (2º) e Bruno Matheus (3º) completam o pódio. Dificilmente
conseguirei dormir esta noite. Sei que os melhores do continente estavam hoje ausentes
em luta pelo Rio 2016, mas para mim este é um ótimo pequeno passo em um longo e
emocionante caminho. Lume!
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